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Bataguassu

Em Bataguassu, grávida de 7 meses acusa médico e prefeitura de negligência após perder o bebê

Por: Jornal Cenário MS

Foto: Prefeitura de Bataguassu

Grávida de 32 semanas, a moradora de Bataguassu, Joice Santos Amorim, de 24 anos, passou por momentos traumáticos nos últimos dias. O que deveria ser felicidade, se transformou em tragédia.

Após complicações na gestação, infelizmente, ela perdeu o bebê. De acordo com ela e seu esposo, eles foram vítimas de negligência por parte da Prefeitura de Bataguassu, quanto ao atendimento no Pronto Socorro Municipal e do médico, José Sebastião Andrade Junior,  popularmente conhecido por “Dr. Junior”, que além de ser o médico particular da vítima, nos dias do atendimento pelo município há informações, que foram repassadas a reportagem, de que mesmo sem contrato, o médico era o ginecologista de plantão na Santa Casa no dia dos atendimentos a Joice, e não teria prestado atendimento de urgência a paciente.

Segundo contou Joice ao Jornal Cenário MS, a trágica história se deu inicio no dia 03 de janeiro, quando ela começou a sentir febre e dores de cabeça. Preocupada e com medo de que algo acontecesse a bebê, Joice então entrou em contato pelo aplicativo WhatsApp com Dr. Junior, seu médico obstetra, para marcar um consulta para atendimento, mas não conseguiu agendamento, porque as mensagens, segunda ela, foram ignoradas pelo profissional que já havia deixado o número para contato de urgência.


As dores e mal estar aumentaram no decorrer dos dias, e no dia 09 de janeiro, um sábado, Joice disse que observou que a bebê havia parado de mexer em sua barriga e devido o Dr. Junior não ter respondido suas mensagens, desde o dia 03 de janeiro, ela, desesperada procurou o Pronto Socorro da Santa Casa de Bataguassu.

Atendimento no Pronto Socorro

“Quando chegamos lá, as enfermeiras fizeram uma triagem e demostraram preocupação com meu quadro clínico e então com muita dificuldade ouviram o coração da bebê e disseram que o coração estava batendo e logo em seguida fui para sala do médico, Dr. Guilherme. Ele viu que a barriga estava endurecida e perguntou sobre a minha caderneta de gestante, e eu disse que estava com o meu médico, e que só estava passando na Santa Casa, porque ele desde o dia 03 não me respondia. Então o Dr. Guilherme me perguntou qual era meu médico e disse a ele que era o Dr. Junior. Neste momento, o Guilherme disse que estava falando com ele por mensagens. Então o Dr. Guilherme fez um vídeo da minha barriga e mandou  para o Dr. Junior e pediu para que eu aguardasse lá fora e disse que quando o Dr. Junior respondesse ele me chamava de volta. Passou uns 05 minutos, o Dr. Guilherme me chamou e disse que não tinha conseguido falar com o Dr. Junior e me deu uma receita médica que tinha apenas dois remédios, para dor e vômito, e falou que eu procurasse a clínica do Dr. Junior na segunda-feira, dia 11 de janeiro, e então fui embora para casa” conta Joice

E continua “Quando cheguei em casa mandei mensagem para o Dr. Junior dizendo que tinha acabado de vir da Santa Casa e disse que o doutor que me atendeu falou que a minha filha poderia estar com falta de oxigênio ou falta de nutrição, e perguntei se ele tinha visto o vídeo que o Guilherme tinha feita da minha barriga. Então ele mandou mensagem para mim, até se referindo ao Guilherme, como Felipe, e disse que achava que estava tudo bem com a criança e que achava que o coração estava batendo e me pediu para ficar aguardando até segunda-feira, dia 11, na parte da tarde que ele me atenderia se tudo corresse bem. Então fiquei esperando em casa . Só que durante a noite de sábado eu senti muita contração e dores nas costas, mas continuei em casa seguindo as orientações médicas. Já no domingo, dia 10, mandei uma mensagem logo cedo para o Dr. Junior dizendo que estava sentido que a minha filha não estava bem, que não mexia na minha barriga e que eu estava soltando um líquido gelatinoso e que sabia que tinha algo errado com a bebê. Ele respondeu me acalmando e disse e me lembrou que eu havia escutado o coração da bebê e chegou a errar o meu período de gestação dizendo que eu estava de 22 semanas. Depois pediu que eu ficasse em repouso e que passasse no pronto socorro para ouvir novamente o coração da criança. Mandei outras mensagens clamando que ele me atendesse e ele não me respondeu.” relata a jovem.

A jovem voltou ao Pronto Socorro no domingo, dia 10, como relatou ao jornal “No domingo quem me atendeu foi o Dr. Rodrigo e antes fui atendida por uma enfermeira, que conseguiu ouvir o batimento cardíaco da bebê, que estava muito acelerado. Na sala do Dr. Rodrigo, ele me atendeu e disse que estava tudo bem e que eu somente estava desidratada e me deixou internada tomando soro e um medicamento, mas nem se importou em fazer um toque ou chamar o especialista para dar um diagnostico mais preciso. Quando acabou o soro fui embora” disse.

Diagnóstico do óbito

Segundo Joice na segunda-feira, dia 11, ela ligou na clínica do Dr. Junior e foi informada que só poderia ser atendida às 19h. No entanto segundo ela, ainda aguardou até as 21h30 para que fosse feito o atendimento “As nove e meia da noite quando eu deitei na cama para ouvir o coração da minha filha ela já não estava viva. Mas as 18h, antes de ir para clínica, eu estava deitada na minha cama e senti quando a neném chutou por três vezes depois de três dias que ela não mexia, e essa foi a última vez” lamentou.

A jovem também informou que no momento que era examinada pelo Dr. Junior ele questionou que os profissionais que atenderam ela no Pronto Socorro estivessem mesmo ouvido o coração da criança, pois segundo ele a criança já estava morta a cinco dias “O Dr. Junior disse que não tinha como eu ter ouvido o coração da minha filha, e criticou os aparelhos da Santa Casa, alegando que estavam com defeitos e colocando em cheque parte da estrutura do hospital e nos deu várias possibilidades que teriam ocasionado a morte da bebê, e uma delas era que pelo fato do meu marido ter pego Covid e que eu também teria sido infectada e teria afetado a criança. Mas meu teste da Covid deu negativo. No sábado e domingo eu ouvi o coração da minha filha” contou Joice.

Parto

Joice conta que foi proposta a ela pelo doutor que fizesse o parto induzido, negado, por ela estar muita abatida com a notícia da morte da criança “Eu falei para o Dr. Junior que iria optar pela cesárea e ele me disse que iria me dar o procedimento de forma gratuita. Então eu fui para casa com a minha criança morta na barriga porque eu não tinha cabeça nenhuma para continuar ali, eu queria tentar entender o que estava acontecendo. Na terça-feira, dia 12, voltei para clínica e fui informada que a cesárea não seria lá e sim na Santa Casa. Quando cheguei lá eles não deixaram eu ter um acompanhante então questionei  e deixaram minha mãe ficar comigo. Foi constrangedor, pois paguei particular já pra não passar por isso. Eu tinha combinado com o Dr. Junior que quando eu fosse ganhar a bebê meu marido iria está comigo na sala de parto. Não foi isso que aconteceu. Então foi feito o procedimento, e quando retiraram eu vi que a criança era perfeita” relatou a jovem que falou que no dia da cesárea foi dito que a criança estava morta de dois a três dias, contradizendo o que teria sido dito um dia antes.

Desabafo

Joice relatou a reportagem que queria ver a criança mas que o hospital se recusou “Foi tudo muito rápido como se eles estivesse escondendo alguma coisa, pedi também para tirar uma foto  da minha bebê eles também não deixaram e isso acabou comigo. Cada um tem sua forma de chorar seu luto, eles não foram solidário comigo.” lamentou.

Muito abatida Joice ainda desabafou ao Jornal Cenário MS “Eu só quero dizer que acabaram com a minha vida, e estou muito abalada. Não tem um dia que eu não penso na minha filha e fico imaginando que ela poderia estar aqui comigo. Minha vida não é mais como antes. Só quem perdeu sabe a dor de uma mãe perder um filho e eu quero que seja feito justiça” finaliza a jovem que também registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil sobre o caso.

OUTRO LADO

Mantendo a imparcialidade, o Jornal Cenário MS entrou em contato ontem, dia 25, com a prefeitura de Bataguassu, por meio de sua assessoria de comunicação e com o Dr. Junior, através de sua clínica médica. Ambos não responderam a reportagem. O espaço segue aberto.

Com a falta de esclarecimentos por parte dos envolvidos, o Cenário MS foi buscar respostas e conseguiu provas que pelos menos no dia 09 de janeiro o responsável pelo atendimento ginecológico a jovem Joice Santos Amorim era o Dr. Junior. A informação foi confirmada por funcionários de dentro do hospital.

Portanto, os questionamento que ficam são: Se o Dr. Junior era o ginecologista de pronto aviso, porque não foi ao hospital para realizar um diagnóstico preciso a paciente? E porque não há nenhuma publicação no Diário Oficial do município que o efetiva ele na função?

A reportagem também entrou em contato com Polícia Civil, que informou que já foi dado início as investigações pelo Setor de Investigações Gerais (SIG) da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Bataguassu.

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