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Bataguassu

“Simples nódulo” se tornou um câncer: Moradora de Bataguassu relata ter sido vítima de descaso por ginecologista da cidade

Foto: Juliano César

Uma moradora de Bataguassu relata um caso onde segundo palavras da mesma, foi vítima de descaso por parte de um médico ginecologista da cidade. O que era um “simples nódulo”, com o tempo se descobriu um câncer agressivo.

Jéssica Fernanda Faustino de Oliveira tem 34 anos e em entrevista ao Jornal Produção relatou com riqueza de detalhes a sua situação, desde a descoberta do nódulo no mês de janeiro, até o tratamento Intensivo de quimioterapia que hoje faz no município de Araçatuba.

Acompanhe abaixo o relato de Jéssica:

“Em janeiro eu senti um nódulo no seio direito. Senti ele por três dias, estava me incomodando. Voltando de férias, em conversa com uma colega de serviço conversamos sobre o assunto e me foi recomendado procurar imediatamente um médico”, disse Jéssica.

O próximo passo foi a procura por um médico, onde inicialmente,  segundo palavras da mesma, foi passada a ideia de que não era algo para se preocupar.

“Pedi para a minha mãe marcar um ginecologista, junto com um ultrassom. Minha mãe ligou no consultório, marcou a consulta e o ultrassom. Chegando no consultório ele me perguntou o que tinha acontecido e eu falei. Ele foi fazer a ultrassom, e disse que eu estava com um “nódulozinho” de 1,5 cm, aproximadamente 1,7. Ele falou que aquilo não era motivo de se preocupar. Era só fazer uma cirurgia para a retirada do nódulo”, relata Jéssica.

Mudança de postura

O que inicialmente foi tratado como algo simples, mudou. Em ligação, a mãe de Jéssica teve a informação de que não poderia esperar pela cirurgia. Deveria ser marcada com urgência. Então a cirurgia foi marcada, e aqui começa um capítulo de intensa dor para Jéssica.

“Ele pediu para ir na recepção marcar com a secretária o dia da cirurgia, e que ele mesmo faria o procedimento. Eu pedi para ele esperar uns dias porque eu tinha recém entrado na Santa Virgínia, e tinha que conversar com o meu encarregado. Aí eu fui embora chorando. Isso foi numa quarta-feira. Quando foi na quinta-feira, eu estava no meu serviço, na hora do almoço, já tinha conversado com o meu encarregado, que iria precisar fazer uma cirurgia, quando foi na hora do almoço a minha mãe me mandou mensagem, falando que a secretária do médico tinha ligado pra ela, e ele tinha falado que não dava tempo de esperar. Eu tinha que fazer a cirurgia com urgência. A minha mãe apavorada foi na clínica dele, marcou a cirurgia para o outro dia, uma sexta-feira, às 15h00, e efetuou o pagamento. Aí a minha mãe me mandou mensagem avisando. Eu avisei o encarregado geral da empresa que ia ter que fazer essa cirurgia. Quando foi às 16h me chamaram na sede da fazenda, pediram para que eu fosse lá, pois os majoritários queriam falar comigo. Cheguei lá e não tinha ninguém. Só tinha uma secretária com a minha rescisão. Eu falei que tinha uma cirurgia no outro dia, e ela falou que a firma não tinha nada a ver com isso. Assinei o papel e vim embora desnorteada. Minha mãe me disse para ter calma e esperar, que era pra focar na minha saúde. Quando foi no outro dia fomos para a clínica, e chegando lá a secretária disse para ir na Santa Casa particular pois ele estaria lá esperando para fazer a cirurgia”.

A cirurgia

“Quando fomos para a Santa Casa particular, estava eu e minha mãe, ele falou que eu ia ver tudo e ele ia dar uma anestesia local. E era coisa de 20 minutos a cirurgia. Aí eu me preparei, coloquei a roupa, e entrei para a sala de cirurgia. Quando ele começou a cortar, ele não estava achando o nódulo. Ele começou a ficar muito nervoso, e aquilo já tinha se passado 20 minutos, e eu comecei a sentir a dor. Eu comecei a falar que estava doendo, e ele falou que eu tinha que aguentar porque ele não poderia me dar outra anestesia. O nódulo estava grudado no músculo. Dentro da sala de cirurgia tinha duas enfermeiras, uma bem mais experiente e outra mais nova. Nisso ela viu meu sofrimento, que eu não estava aguentando mais, ela falou a seguinte frase: “Dr, eu vou te ajudar”. Ela veio na minha cabeça, eu estava com o meu braço direito na nuca e o meu braço esquerdo abaixado. Eu estava sentindo tanta dor, que por um momento fui perdendo a noção e fui levando a mão em cima de onde ele estava cortando. Eu estava toda branca, achei que ia desmaiar, de tanta dor que estava sentindo. E ele nervoso. Aí ela veio pelo meu pescoço e começou a empurrrar com os dedos o nódulo. Aí ele achou e foi arrancando. Ela falou para pegar uma pinça 16, ele foi tirando e eu senti toda a dor. Quando chegou no meio entre um seio e outro, ele estava grudado. Quando ele tirou, viu que o nódulo estava com 3 cm, até o ultrassom dele estava errado. Aí ele falou que ia dar os pontos. Foram 10 pontos por dentro sem anestesia e 3 por fora. Passou-se uma hora e eu dentro da sala de cirurgia. Quando ele abriu a porta de cirurgia para eu sair, eu perguntei se ele não ia dar a receita, ele me pediu para ficar calma, que ele ia dar a receita, meio perdido. Minha mãe entrou e perguntou o que aconteceu. Ele disse que não estava da maneira que ele imaginou que estaria, mas que estava tudo bem porque ele tirou o nódulo inteiro. Eu sentei em uma cadeira e senti muita dor. Ele não me deixou internada. Deu a receita para a minha mãe e pediu que com 6 dias eu comparecesse na clínica dele para tirar os pontos. Fui embora pra casa, e com 6 dias eu fui na clínica e a conversa dele mudou. Ele tirou os pontos e falou “vamos orar?” Eu perguntei o porque? Se ele tinha dito que era uma coisa simples, que ele tinha tirado o nódulo.

Então ele disse que viu fragmentos desconhecidos no keu nódulo. Perguntei “E agora?” Ele disse que foi para a biopsia, já era para ter chegado o resultado, mas não havia chegado ainda. Se não fosse nada ele me mandaria por PDF, mas se fosse alguma coisa ele me chamaria na clínica. Fui embora chorando”.

Descoberta do câncer

Nesta parte, Jéssica descobre o seu câncer, e segundo suas palavras, o médico disse que fez retirada total através de cirurgia. Que ela estaria curada. A princípio, um alívio.

“Quando foi uma quinta-feira, acordei pela manhã, minha mãe estava chorando na cozinha. Eu perguntei para ela o que estava acontecendo, ela falou que a secretária havia ligado e pediu para ir na clínica sexta-feira. Ali eu já sabia que tinha dado um câncer. Comecei a chorar e tomei um calmante. Dormi para aguentar no outro dia. Porque ela deveria ter ligado na sexta-feira. Como eu ia ficar nessa agonia a quinta-feira inteira para ser atendida no outro dia ainda a tarde. Quando foi 15h eu entrei dentro da sala dele com a minha mãe, ele estava com o resultado da minha biopsia em mãos e falou assim: “Jéssica, deu um câncer. Deu um carcinoma invasivo maligno”. Perguntei “E agora? O senhor vai me encaminhar para algum médico na área?” Eu leiga no assunto. Nunca conheci ninguém que tinha tido câncer. Ele falou: “Encaminhar para médico pra que? Sendo que eu fiz a retirada do tumor?” Eu perguntei se não ia precisar fazer uma quimio ou radioterapia. Ele então bateu na mesa “Qual a parte que você não entendeu que está curada? Você vai fazer radio e quimio do que, se eu fiz a retirada do tumor?” Eu perguntei se poderia levar a minha vida normal, ele disse que sim, só pediu para não pegar peso nos primeiros três meses porque os pontos por dentro estavam crus, porque o resto eu poderia fazer tudo. Eu leiga, acreditei em quem estudou. Estava confiante nele ali. Considerado um dos melhores médicos, ginecologista”.

A última consulta em Bataguassu

“Não tenho filhos, tinha perdido o meu serviço. Estava namorando com um rapaz. Falei para a minha mãe que iria embora. Passei o final de semana com a minha família, e fui embora para uma fazenda no interior de São Paulo. Quando foi em março, eu comecei a sentir muita dor na cirurgia. Fiz a cirurgia em janeiro e em março comecei a sentir dor. Aí o meu ex marido falou: “Jéssica, acho melhor você ir pra Bataguassu e passar pelo médico que você fez essa cirurgia, porque estava recente. Liguei para a minha mãe, ela marcou uma consulta com ele, outra ultrassom. Eu vim de lá pra cá, fui na clínica, passei por ele. Ele fez a ultrassom e disse que abaixo do bico do meu seio eu estava com um cisto de água com 0,5. Aí eu me apavorei. Ele passou um medicamento para parar de sentir dor e uma vitamina para fortalecer meu seio, porque tudo o que eu estava passando de emoção refletia no meu seio. Perguntei se era só isso, se não ia precisar fazer mais nada. E ele disse que era só aquilo. Ele disse “Para de loucura e só volta daqui 1 ano”. Aí eu entrei na farmácia, comprei o remédio e voltei pra fazenda. Quando foi em junho começou a febre, de 39° e 40°”.

A partir de então, Jéssica passou por um médico de outra cidade, e este a encaminhou para um oncologista, para que o seu caso fosse acompanhado com maior propriedade.

“Comecei a ficar debilitada. Aí eu fui no clínico geral da cidade que eu estava e ele me encaminhou para o oncologista de Andradina. Chegando lá eu contei para o Dr, que tive um câncer em janeiro, ele perguntou “Como assim um câncer?” Me pediu a biopsia. Ele disse que eu ainda estava com câncer desde janeiro. Eu falei que o Dr já havia tirado, e o outro médico me disse que eu não tinha feito nada. Me perguntou se eu não tinha sido encaminhada para um tratamento. Ele não fez nada, e ele mexeu onde não era da conta dele. Ele é um ginecologista e não podia ter feito isso. Ele falou “Você está com câncer”, e eu apavoradíssima, falando que não. Ele me pediu para tirar a blusa e me falou que ia mostrar que eu estava com câncer. Ele fez a ultrassom e em cima da marca da cirurgia ele já achou. Ele voltou três vezes mais forte. Um câncer nível 6. Ele tirou um, mas estava enraizado e eu não fiz o tratamento. Não era pra ter mexido, mas já que mexeu, tivesse me encaminhado para um médico da área. Se ele tivesse me encaminhado para um médico da área, eu tinha feito só uma rádio. Só uma rádio e eu estava livre de tudo isso que está acontecendo comigo. De quimioterapia, dessas drogas super agressivas, perca do meu cabelo, vou ter que fazer a retirada do meu seio, com 34 anos vou ter que fazer essa retirada. Aí esse médico falou o seguinte: “Jéssica, o seu caso está grave. Vou pedir vaga 0 pra você”. Eu entrei em desespero. Ele fez a ultrassom embaixo da minha axila, coisa que o Dr de Bataguassu não fez, ele só fez a ultrassom das mamas. Isso não existe. Tem que fazer das mamas e debaixo das axilas. Eu já estava com um linfoma gigante embaixo do meu braço. Se você pega da pra ver certinho. O médico ficou muito nervoso, que isso não se faz. Disse que ia pedir vaga 0, que do jeito que eu estava se eu não fizesse um tratamento eu não aguentaria 30 dias. Eu fiquei desesperada, fui passar com a assistente social, ela disse que ia encaminhar a papelada, e onde surgisse vaga eu não poderia escolher. Jaú, Barretos, São José do Rio Preto, Araçatuba. Com 25 dias saiu a minha vaga em Araçatuba, em um hospital que recém está começando. Lá eu fui muito bem acolhida e caí na mão de um excelente profissional. Ele é oncologista, mastologista e cirurgião plástico e quando ele pegou meu prontuário ficou indignado. Eu falei “Dr, essa é a minha história. Leiga no assunto, não conheço, esse médico mexeu em mim”. Ele falou “Ele jamais deveria ter feito o que fez. Ele jamais deveria ter tocado em você. No máximo o que ele deveria ter feito era com uma seringa ter tirado uma amostra para mandar pra biopsia pra mandar para os profissionais da área. Ele perguntou se eu estava em um hospital especializado, com o acompanhamento de um oncologista e eu disse que não. Ele passou por cima dos Profissionais da área, colocou a minha vida em risco, porque eu não estava em um hospital especializado e ele não me encaminhou. Para consertar o erro dele, terá que ser feita a retirada da mama. Chorei desesperada e ele pediu para mim uns 19 exames. Disse que nem ia esperar meus exames ficarem prontos porque não daria tempo, e já iria entrar com o tratamento, porque o câncer está muito agressivo. Pequeno, mas agressivo porque foi mexido”.

Idas para Araçatuba e o que vem sendo feito desde então

Depois disso me ligaram e eu fui para Araçatuba, então fiz a biopsia, só do tumor que estava em cima da cirurgia, não deu pra fazer do linfoma que estava embaixo do braço pois ele estava tão grande que estava em cima da minha veia artéria. Fui encaminhada para o oncologista, com quem faço as sessões de quimioterapia. Ele olhou a minha situação e também se assustou. Ele disse que fui enganada. Que pedem justiça pelo que foi feito comigo. Que eu não sou mãe e sou nova, e ele jamais deveria ter feito o que fez. Ele errou em tudo. Ele disse que infelizmente teria que fazer comigo o tratamento mais agressivo. Eu entrei com quatro quimio vermelha, que é a mais agressiva que tem. Porque não havia tempo para perder. Já fiz a terceira sessão da minha quimio, e ela é tão forte que só faço uma vez por mês. Já começou a sair os exames e lá não tem casa de apoio, porque o hospital é recente. Então agora que começou a sair os meus exames e já está acabando essa quimio vermelha, e eu não sei como será o procedimento,  se vai me operar, ou se vai passar as sessões da quimio branca e só depois a cirurgia. Semana passada eu passei inteira em Araçatuba. Só lá entre pensão que fiquei, alimentação e uber para me locomover, eu gastei R$ 1.500,00. Isso em só uma semana que eu estava lá. Esse dinheiro vem dos meus familiares, para que eu cubra meus gastos lá, e a minha história é essa. Eu quero deixar bem claro que as pessoas não fiquem só com uma opinião médica. Procurem outros médicos, porque o que aconteceu comigo eu não desejo pra ninguém.

No final de sua fala, Jéssica diz que entrou com processo contra o médico de Bataguassu.

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