Fonte: Campo Grande News – Fotos: Henrique Kawaminami
Amanda Cristina da Costa, 19 anos, saía do banho quando foi alertada pelo filho de 2 anos: “Mamãe, a Mimi acordou”. Ao olhar para cama, viu Yasmin, de 9 meses, arfando, mole, enrolando a língua e tremendo. No desespero, saiu correndo pelas ruas do Jardim Tijuca e seu caminho se cruzou com delegado Fabrício Dias dos Santos que, naquele dia, alterou rotina, mudança que acabou salvando a menina do engasgamento.
O incidente aconteceu na última terça-feira (21), por volta das 12h. Hoje, passado o susto, foi hora de agradecer ao delegado, em visita na 6ªDP. O encontrou foi flagrado pela reportagem do Campo Grande News, que fazia ronda para perguntar sobre casos investigados na delegacia e encontrou uma história que vai além das ocorrências policiais.
Amanda contou o desespero que passou. Ao ver a filha quase desfalecida, saiu correndo, vestida apenas com roupa íntima e enrolada na toalha. “Na hora, nem pensei em colocar roupa, só saí em direção aos bombeiros.”
Foram percorridos 450 metros, da casa até o Corpo de Bombeiros, o trajeto mais angustiante da vida dela. Descalça, gritando e pedindo ajuda, passou por cerca de quatro quadras de rua sem asfalto e cheia de pedras. Atrás, a tia a seguia, com a bebê nos braços.
Na frente do Corpo de Bombeiros, na Avenida Souto Maior, a agonia aumentou ao não encontrar equipe no local. O grupo havia saído para atender ocorrência.
Ao lado da unidade, está a sede da 6ªDP, de onde o delegado Fabrício dos Santos manobrava o carro para sair. Naquela terça-feira, se sentindo um pouco mal, decidiu não almoçar na delegacia, como regulamente faz, e resolveu ir para casa.
“Olhei o retrovisor e vi Amanda correndo de toalha na rua, a tia atrás, um cachorro correndo com elas e fiquei sem entender. Pensei: ‘alguém está batendo nela e ela está fugindo’”.
O delegado desceu do carro e foi até as mulheres que estavam desesperadas, gritando em frente da unidade do bombeiro. Viu a menina agonizando. “Realizei o procedimento que aprendemos na Academia, aprendi há 9 anos e nunca tinha usado”, referindo-se ao treinamento de primeiros socorros repassado na Polícia Civil.
O delegado usou a manobra de Heimlich: apoiou Yasmin no antebraço, a posicionou de cabeça para baixo e fez compressões no dorso da menina com a palma da mão. “Na hora fiquei bem nervoso e só pensei, ‘vou fazer e vai dar certo’”, contou. “Não sei quantas palmadas dei, a tia me falou que foram três e ela voltou”.
A manobra de Heimlich (tração abdominal) é um procedimento rápido de primeiros socorros para tratar asfixia por obstrução das vias respiratórias superiores por corpo estranho, tipicamente alimentos ou brinquedos. Se necessário, pode-se utilizar também compressões torácicas e percussão nas costas.
Santos diz que chamou atenção o fato de várias pessoas estarem na rua, mas que ninguém se prontificou a ajudar.
Depois da manobra, o delegado levou as mulheres e a bebê de volta para casa na travessa. De lá, seguiram para Hospital Regional, onde Yasmin foi internada. Ela passou por exames e foi liberada ontem. A mãe não relatou à reportagem o que poderia ter sido a causa do engasgamento.
O delegado se recorda da sensação que ficou depois de ver a menina voltando a ficar consciente. “Foi sensação de estresse, angústia e, depois, alívio”, disse ao Campo Grande News. “A gente aqui está preparado para tudo: troca de tiros, mortes, mas essa é sensação diferente, de salvar um bebê; para mim, ter saído de rotina para salvar a bebê naquele dia foi como se eu fosse um instrumento de Deus, era para ser”.
No agradecimento, o delegado disse que não se sente herói. “As maiores heroínas são elas, principalmente Amanda que saiu correndo essas quadras de ruas de pedra, descalça e de toalha. O que eu fiz foi reação prática daquele que aprendi na academia”.