Em um tempo em que os recursos governamentais eram escassos – período da ditadura militar – e não existiam tantas politicas públicas e verbas certeiras como hoje –, os sonhos eram abundantes, erguia-se em Bataguassu, no nosso querido Mato Grosso do Sul, o prefeito Ailton Pinheiro Ferreira, homem cuja essência resplandecia como o sol nascente. Ele ainda governou Bataguassu durante três anos de ditadura militar. Encerrou sua missão de gestor em 2004.
Ele arranchou-se naquele acanhado rincão ainda moço, vindo de um município longínquo das bandas de Cuiabá, ocasião em que o Mato Grosso ainda não era dividido, e quase fez parte dos homens que assessoravam Jan Antonin Bata, mas findou sendo um responsável funcionário da Cia. De Viação São Paulo Mato Grosso, durante décadas. Nesse pequeno rincão ele teve a honra de tornar-se prefeito em 1983, ocasião em que eu contava 16 anos de idade, tendo sido vereador anteriormente. Sua trajetória como gestor deixaria uma marca indelével em nossos corações e na história de nossa cidade, somando-se 22 anos de vida política.
Com um sorriso contagiante – sua marca registrada –, que iluminava até os dias mais nublados, ele se fez presente na vida de cada munícipe, sempre disposto a ouvir, a acolher e a entender as necessidades de sua gente. Onde ele estivesse resplandeceria uma adequada gargalhada. Sua simplicidade era um bálsamo em tempos de complexidade, e sua atenção às pessoas, um testemunho de que a verdadeira liderança reside na empatia e no amor ao próximo. Tão atencioso que alguns diziam que ele cumprimentava até as árvores, os postes de madeira que perfilavam as ruas da cidade.
Éramos vizinhos de rua, de maneira que antes, durante e depois dos seus pleitos políticos, ele foi parte da minha infância e adolescência. Algumas vezes os comícios eram exatamente na frente da nossa casa, no centro da Avenida Campo Grande, e ele pedia autorização para o meu pai para usar a energia.
O sr. Ailton não apenas governou, mas também sonhou junto com os bataguassuenses em prol de tempos melhores para o nosso município, na época de uma cidade acanhada, de ruas terra batida, postes de aroeira, lâmpadas amarelas, com pouquíssimas oportunidades de trabalho e lazer. Suas mãos, que moldaram obras marcantes, ergueram não apenas estruturas físicas, mas também laços de união e esperança. Cada calçamento, cada praça, cada espaço de convivência que ele idealizou e concretizou, ecoa até hoje como um tributo à sua visão e dedicação, símbolos de um bom administrador.
A gratidão que sentimos por sua trajetória é imensurável. Ele foi um farol em meio à escuridão, um exemplo de que, mesmo em tempos difíceis, é possível transformar a realidade com amor e determinação. Ele não descobriu o Brasil, mas descobriu formas de tornar a cidade melhor e mais evoluída em conformidade com o contexto da época. Ele marcou porque deu um passo muito significativo na história do município de Bataguassu. Por tal razão, sua memória permanecerá viva no cenário de Bataguassu e no coração de todos que o conheceram, como um canto suave que nos lembra da importância de servir ao próximo com generosidade e respeito.
Hoje, ao relembrarmos sua história, celebramos não apenas o legado de um ex-prefeito, mas a vida de um homem que, com seu jeito carinhoso e sua postura íntegra, conquistou o afeto de toda uma cidade. Que sua luz continue a brilhar em nossos caminhos, inspirando-nos a seguir seus passos de bondade e compromisso com o bem comum.
Nas vezes que estive em Bataguassu, procurei-o para cumprimentá-lo, mas o destino não quis que nos encontrássemos, portanto 34 anos separam a última vez que trocamos palavras. Curiosamente, na inauguração em que o Museu Helena Meirelles foi inaugurado, Fídias visitava Bataguassu, falou com ele e fizeram uma fotografia juntos. Fídias me disse, por telefone, “pai, ele disse que eu sou a sua cara!”.
É isso mesmo. É a vida… algumas pessoas passam por nós e nos marcam pelas mais diversas razões, pelos motivos mais comuns, como bem disse o escritor e piloto francês Françoise de Saint-Exupéry: “Aqueles que passam por nós não vão sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós”.
Assim, rendo minha homenagem a esse querido amigo, cuja presença foi um presente e cuja obra é um eterno testemunho de amor e dedicação. Que sua memória perdure em nossos corações, como um símbolo de esperança e humanidade.
Aqui mesmo tudo começa, aqui mesmo tudo acaba…
L. C. Freire – Natal, Rio Grande do Norte.
CHEGA UM DIA QUE SOMOS OBRIGADOS A NOS DESPEDIR…
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